sexta-feira, 23 de julho de 2010

DEPOIMENTOS E CRÍTICAS SOBRE A OBRA DE FERNANDO LÚCIO I


José Buarque Borges

O artista acrescenta seu eu íntimo á sua obra.

Entendemos como artesão aquele que só consegue reproduzir percepções evidentes e superficiais do seu consciente. O artista cria. O artesão imita.

Muitos se proclamam artistas, quando na verdade são artesãos, apelidados de artistas por auto-presunções, ou pela crítica leviana ou incompetente. O artista é uma esteta enquanto o artesão é um semântico. O nível de percepção do artista é, assim, infinitamente superior ao nível de percepção do artesão. Enquanto a obra do artista transcende, a obra do artesão restringe-se, à semelhança do ato sexual praticado com ou sem amor.
           
Os palhaços confessos por trapaça e os ingênuos, os folclóricos, os espertos e oportunistas, de consumo fácil decorrente das aclamações sócio-culturais dos medíocres, descansarão no silencio do anonimato e do esquecimento. Porquanto a Cultura, ao longo do tempo, distingue o joio do trigo e destacará apenas autores e obras que, pelos seus valores intrínsecos e de contribuição, merecerão constar do contexto histórico da arte.

 Fernando Lucio é um artista.


                                                                              José Buarque Borges, 1995 – Recife – PE
 




Inaldo Cavalcante

Dificil a jornada a nós concedida. Encantatória. Em um tempo onde não há mais presente e sim atualidade, onde a meditação é prostituída na descontinuidade da mídia, onde a palavra se reduziu a fofoca, Fernando Lúcio nos convida a caminhar por uma visão do avesso de nós, vertical compromisso com a paisagem interna não tão habilmente sufocada no horário nobre das telenovelas”. (...)

“Andarilho dos seus caminhos, e porque artista-andarilho, ele faz a partilha dos frutos – singular comunhão que a arte concede, e nossa é a contemplação e a coragem de experienciar estética e vitalmente o sumo desses frutos. E porque andarilho, ele nos diz do labirinto, das errâncias da aventura humana”. (...)

“Frutos da lunação do labirinto, temos esses quadros figurativos, representando como que cenas do olhar em transito. Uma imagem se destaca embora em varias facetas e detalhes  permanece una: a anima”.(...)

“Enfatizemos a coerência artística das telas de Fernando: os temas se interpenetrando com diferentes níveis emocionais e homologias simbólicas (o lado YIN). As composições de viés clássico articulando o espaço para os sonhos da cor e do coração”.(...)

“Que mais exigir do artista além de oficiar o casamento entre a verdade e a beleza?”


                                                                                     Inaldo Cavalcante, 1991 – Recife – PE
 




Jacques Weyne

Como aquela criação que embora de época posterior contém-se  na origem; que se rebela mas a índole a detém; que traz o vírus do novo e os genes da antecedência... Assim comparo, em especial, o espírito da paleta de Fernando Lúcio.  Repete o Divino Mistério como o de ser o Pai e o Filho ao mesmo tempo!

Fernando Lúcio tem a propriedade de trazer o moderno embutido no tradicional numa união tão perfeita como a dor e a alegria estão contidas numa lágrima. Como o pai está contido no filho, uma árvore na semente, o ontem no hoje e o hoje no amanhã.

                                                                                                    Jacques Weyne, 1990 – Recife – PE
 





Vicente Masip

Vários Críticos têm comentado sua obra com acerto, entre eles o professor Isidro Queralt Prat, indiscutível autoridade no campo das artes plásticas. De formação  eclética, percebe-se a presença marcante de um grande pintor impressionista espanhol, valenciano, que, embora pouco conhecido no Brasil, impõe-se no mundo pela sua técnica e força cromática: Joaquim Sorolla y Bastida (1863-1923). Fernando Lúcio consegue assimilar o pintor da luz. Nota-se, também, em menor grau, influências de El Greco (1541-1614) na estilização e posturas de alguns retratos, assim como Velazquez (1599-1660) em certos nus de costas. Fernando realiza uma proeza no meio pictórico nordestino: pintar sem justificar-se, alheio à procedência ou ao alcance do que produz, despreocupado com a repercussão  ideológica das obras e aberto a todas as tendências e escolas que possam enriquecê-lo e relançá-lo sempre mais longe”.

                                                                                           Vicente Masip, 1990 -  Recife – PE
 




 
Paulo Azevedo Chaves

Em seus trabalhos, Fernando Lúcio procura captar o momento da paisagem ou dos modelos vivos, os movimentos da dança, em pinceladas ágeis e seguras, demonstrando seu permanente desenvolvimento na técnica tanto gráfica como pictórica e no estudo anatômico.  Pode-se sentir que em sua série de dançarinas o artista reverencia Degas, mas imprimindo uma visão contemporânea às pinturas e desenhos.

Numa obra feita de lirismo e emoção, o artista longe de fazer transcrições servis da realidade observada, nela reverencia a Natureza sob uma ótica própria, numa produção vasta e contínua que lhe granjeou prestigio em nosso meio artístico.


                                                                                                                          Paulo Azevedo Chaves,
                                                         Diário de Pernambuco, 20 de outubro de 1987 – Recife – PE






Orley Mesquita

“Tudo na pintura de Fernando Lúcio converge para recriar, em nós, a docilidade mesma da luz, a confidência velada e displicente dos modelos e um pudor quase infantil ao lidar com as dádivas do sonho.

A nosso entender, o que há de mais importante na sua pintura é que o seu compromisso maior entre o homem e a natureza jamais foi rompido”.


                                                                                          Orley Mesquita, 1983 – Recife – PE

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