Todas as formas que passo para o papel
são como sonhos se materializando, do mínimo traço a uma mancha, são linhas que
vão me conduzindo e ao mesmo tempo dando um determinado prazer, um prazer de
desvendar uma mensagem ainda indecifrável, sinais que inquietam a minha mente
e me trazem sensação de que haverá algum desfecho final. Sempre gostei de
desenhar, não de riscar por riscar, mas, quebrar o vazio do papel em branco com
a mente. Gosto da forma real, como base de todas as coisas, mesmo dos sonhos,
que já têm uma predominância surreal. Captar uma imagem, observando, vendo o
mundo e codificando mesmo em pequenos traços, é como se eu conseguisse tocar um
pouco na mão Divina, sentir a energia que move todas as coisas.
Desde criança, gostava de desenhar,
olhar e refazer no papel o mundo, eu sentia que tudo crescia a partir desta
experiência, pois quando eu queria, em outro momento, podia redesenhar aquela
idéia já sem precisar olhar, apenas traduzindo o que eu sentia da forma.
Fascinava-me sentir este domínio sobre a natureza, como se caminhasse lado a
lado com ela. Na escola, convivi com a reação das pessoas sobre a minha fascinação
em criar imagens, muitos colegas me procuravam para que eu fizesse um desenho,
como quem falasse: foi ele que viu o mundo ser criado. Ao querer aprender mais
sobre o desenho, fui descobrindo que teria de estar sempre praticando, pois
naturalmente sentia, que, se não praticasse, as linhas ficavam duras e os
traços tornavam-se lentos.
Ao entrar na Escola de Belas Artes, vi
que o mundo do desenho era ainda mais mágico, pois, ele fazia parte da criação
de todas as obras de arte. Conheci vários mestres, uns me falavam que o meu
trabalho seria o resultado das minhas horas vividas no desenho, outros diziam
que com o desenho eu conseguiria aprender a pintar e a esculpir com mais domínio,
que ele seria a grande chave para o meu crescimento na arte. Mesmo assim, com
todo aquele estímulo não cheguei a ser um desenhista plenamente acadêmico, não
tinha tanta paciência para passar horas e horas em um só desenho. Mas passei a
ser um desenhista da vida, buscando formas nas ruas, nas praças, nos teatros,
nos bares, na natureza, etc. e por um certo tempo, freqüentava academias de
dança e ficava desenhando o movimento do corpo, que era para mim algo sublime,
e depois disto senti que meus quadros pareciam se movimentar, como se passassem
a dar uma sensação cinética. Quando muitos precisavam de um lápis para escrever
e planejar, eu o usava para fazer rabiscos que me levavam sempre às boas idéias.
Os códigos do desenho são infinitos,
eles me agradam do mais simples ao mais complexo e nunca poderia imaginar a
construção do meu trabalho sem um papel desenhado antes, como uma maquete
essencial vinda da alma. Amo o desenho e o sinto como o sopro constante da vida
na minha arte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário